

Por: Vanderlei de Lima é eremita de Charles de Foucauld
O Papa Leão XIV visitou, entre os dias 27-30/11 último, a Turquia, país com um número bastante reduzido de cristãos, mas que, em 325, foi cenário do Concílio de Nicéia I. Lá o Santo Padre se encontrou também com o patriarca ortodoxo Bartolomeu I. Estes dois fatos serão brevemente comentados neste artigo. Ajudam a melhor entender o porquê dessa visita.
O Concílio de Niceia I foi o primeiro Concílio Ecumênico (do grego, oikoumene: terra habitada) da História da Igreja. Realizou-se entre os dias 26 de maio e 25 de julho de 325, na cidade de Niceia da Bitínia, hoje Iznik, na Turquia. Sua razão principal foi a seguinte: ante o arianismo e subordinacionismo, correntes que afirmavam ser Jesus mera criatura especial saída das mãos do Pai, e não a segunda Pessoa da Santíssima Trindade que, sem deixar de ser Deus, fez-se homem por amor de nós, o imperador Constantino convocou tal Concílio. O Papa Silvestre, muito idoso, não pode comparecer, mas enviou seu representante, dando, assim, legitimidade à assembleia.
Nela, foi definido que “o Filho de Deus é consubstancial (homoousios) ao Pai – o que significa que não é criado, mas compartilha a essência do Pai (ou a Divindade)”, conforme professamos no Credo niceno-constantinopolitano até hoje (cf. Dom Estêvão Bettencourt, OSB. Curso de História da Igreja. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2012, p. 476; Curso de Cristologia, idem, 2018, pp. 180-183). Importa notar que o Concílio de Niceia I nada inventou. Apenas reafirmou a fé da Igreja, conforme textos dos Evangelhos (cf. Mt 16,13-20.25; 11,27; 26,63-66; 5,12.21-48; 25,31-46; 9,2-7; 10,37; Mc 2,27-28) e da Tradição (Santo Inácio de Antioquia, Aos Efésios 7,2; Santo Irineu. Contra as heresias. Livro V, Prólogo e III, 19,1, e Tertuliano, Contra Praxeias 27,11).
Em 29/11/2025, o Santo Padre e o Patriarca ortodoxo assinaram uma importante Declaração Conjunta que, a certa altura, afirma: “Além de reconhecermos os obstáculos que impedem a restauração da plena comunhão entre todos os cristãos – obstáculos que procuramos enfrentar através do caminho do diálogo teológico –, devemos também reconhecer que o que nos une é a fé expressa no Credo de Niceia. Esta é a fé salvadora na pessoa do Filho de Deus, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, homoousios com o Pai, que por nós e pela nossa salvação se encarnou e habitou entre nós, foi crucificado, morreu e foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao céu e de novo há de vir para julgar os vivos e os mortos” (Vatican News, 29/11/2025, on-line).
O encontro do Papa Leão XIV com o patriarca Bartolomeu I, ortodoxo, leva à indagação: Que se entende, em poucas palavras, por Igreja Ortodoxa? – Antes da resposta objetiva, é importante notar que sempre houve dificuldades na relação entre os cristãos do Oriente e do Ocidente. Elas decorreram da diferença de cultura, de línguas, de liturgia e disciplina etc. No correr dos séculos, diversas ruptura temporárias advieram, mas foi, em 1054, sob o patriarca Miguel Celulário, de Constantinopla (Istambul, na Turquia), que se deu a grande separação. Ela perdura até hoje. Dito isto, chegamos ao cerne da resposta. Os cristãos ortodoxos, que levam este adjetivo porque nos tempos de controvérsias sobre a Santíssima Trindade e Jesus Cristo, sobretudo, permaneceram fiéis à reta (orto) fé, têm o status de Igreja, pois conservam a sucessão apostólica (suas ordenações são válidas) e, por conseguinte, verdadeira Eucaristia (cf. Congregação para a Doutrina da Fé. Resposta a questões relativas a alguns aspectos da doutrina sobre a Igreja, 29/06/2007, n. 4, on-line).
Eis alguns breve pontos que nos ajudam a entender a importância da visita do Papa Leão XIV à Turquia. Trazem-nos um nobre convite: redobrar a nossa oração pela unidade dos cristãos, conforme o desejo de Cristo em João 17,21.
Por: Vanderlei de Lima é eremita de Charles de Foucauld